Fundamentos

MANUAL DE TAIKO
Confederação Japonesa de Taiko
Traduzido por: Artur Nakahara
Adaptado por: Renato Okamoto

O TAIKO DO JAPÃO

INTRODUÇÃO
O taiko é considerado o instrumento musical mais antigo e de origem remota na história da humanidade. Para os japoneses, não há outro instrumento além do taiko que cause tanta comoção.

Ao ouvirmos as batidas, e ao ouvir o som “tum tum”, certamente seremos tomado pela vontade de compartilhar essas batidas com outras pessoas, seja em dupla, trio ou várias pessoas ao mesmo tempo.

Tendo este curso como ponto de partida, aproveite a alegria que o taiko lhe proporciona e transmita, você mesmo, este contentamento para as pessoas ao seu redor.

O objetivo deste manual padrão é orientar a todos os praticantes, independentemente do estágio em que se encontram para a compreensão da importância da base (kihon), sendo primordial a perfeita execução de cada batida e movimento. Essa é a diferença entre o toque de um bom aprendiz e o leigo, pois qualquer pessoa que tenha em mãos um par de baquetas pode emitir “um som” ao bater o taiko.

É evidente que o aprendizado do taiko se dá não somente através da teoria, mas também com sua prática. A música é tocada conciliando as batidas com o movimento corporal, resultando desta forma uma performance capaz de conquistar a atenção do espectador.

A ALMA DO TAIKO
Nas ruínas de Togariishi, região de Kayano, encontra-se peças de barro onde presume-se que estas eram revestidas de couro formando uma espécie de tambor que servia de ferramenta para a permuta de mercadorias. Atualmente, dizem que alguns povos do Continente Africano utilizam tambores (não necessariamente forrado com couro) como meio de comunicação os quais transmitem não só palavras, mas os próprios sentimentos como alegria, tristeza e prazer.

Neste momento, ao sentirmos o rufar do taiko, o que sentimos?
Nunca teve a sensação de ter espírito deslocar-se até os nossos antepassados mais longínquos? E , no dia seguinte, não seria tomado pela necessidade de realizar algo como compartilhar o sentimento de solidariedade com as pessoas aos seu redor?

Para nós, o significado profundo da alma do taiko é:

  • a confirmação da nossa vitalidade e do grito da nossa própria alma;
  • o compartilhamento de sentimentos com os próximos;
  • o estímulo e o encorajamento recíproco.

HISTÓRIA E FILOSOFIA DO TAIKO JAPONÊS

Desde os tempos remotos
Em diversas partes do mundo, o taiko foi um dos primeiro instrumentos musicais utilizados. No Japão, há cerca de dois mil anos, na era Joumom e Yaoi, foram encontradas, ente os objetos, evidências de que já se utilizavam taikos. O taiko, cujo som pode alcançar longas distâncias, certamente foi utilizado como meio de comunicação (mensagens de códigos) entre os companheiros.

Lenda
Amaterasu Oomikami (Deusa do Sol) que se esconde atrás da porta de rocha.
Um dia, enquanto a Deusa, Amaterase Ookamo, estava tecendo,s eu irmão Susanoo-no-Mikoto, que possui personalidade violenta, arrancou o couro de um cavalo vivo e jogou-o sangrando dentro da tecelagem. A Deusa, irada com a tamanha violência, recolheu-se dentro de uma caverna de rocha. Desde então, o Japão mergulhou numa escuridão absoluta, e o povo entristecido e desesperado rogava pela volta da Deusa do Sol.
Após uma conferência entre os deuses, o deus Sarutahikoou-no-Mikoto, tendo em sua mão direita um galho de sanshou ( uma espécie de pimenta), e na mão esquerda uma folha de yatsude (originária de uma árvore que tem suas folhas no formato de uma pala da mão), calçando gueta de apóio único, acompanhado de Tejikarao-no-Mikoto e

Amanoumeno-no-Mikoto, rumou em direção à caverna rochosa.

O Hyottoko acendeu a fogueira e fez o galo cantar. Amanoumeno-no-Mikoto subiu sobre um barril embocado e iniciou um ritual de danças muito divertidas com o sapateado.

Enquanto isso, Tejikarao-no-Mikoto (Deus da força) permaneceu de prontidão com as mãos no portão de rocha.

Durante o ritual, a Deusa Amaterasu Oomikami, de dentro da caverna, estranhou a agitação e resolveu abrir uma pequena fresta na porta para dar uma espiada. Sem perder tempo, Tejikarao-no-Mikoto aplicando todas as suas forças arrombou o portão de rocha levando consigo a Deusa do Sol. Eles desapareceram na floresta de Shinshu Togakure (região mais montanhosa do Japão).

Assim, o plano para trazer de volta a Deusa Amaterasu Oomikami foi um sucesso. A luz trouxe novamente o brilho sobre as pessoas e a paz voltou a reinar.

A alma das pessoas sendo movida pela vibração do taiko ( tambor de guerra durante os combates e o tambor como meio de comunicação).
Para entendermos o taiko atual, principalmente a origem dos toques no sistemas múltiplo, não podemos ignorar o Jindaiko (tambor de guerra) que os comandantes da era Bélica Japonesa inventaram com o intuito de conquistar e fazer emergir a força mística que o taiko possui para levantar a moral dos comandados. Podemos afirmar que através do Jindaiko aplicou-se a peculiaridade dos eu som com a finalidade de elevar o espírito e estimular a coragem dos combatentes durante a guerra, iludindo e afugentando os inimigos.
O coração humano se assemelha ao taiko pelas suas batidas. Este entra em ressonância com o Jindaiko, que se amplia, aquecendo o sangue e fazendo estremecer os músculos, tornando-se então a força motora para promover o auto estímulo. Podemos dizer que esses sintomas resultantes das batidas do Jindaiko são bem explorados.

A iniciação na arte do taiko
O atrativo principal do taiko japonês, sem dúvida é a sua vibração, seu som residual e a produção da sensação de dinamismo vibrante de aquecer o sangue fazendo com que o corpo se movimente freneticamente.

Ao percussionista de taiko, temos como lema fundamental:

  • Desenvolver um corpo vigoroso, a coragem, a determinação e o espírito inabalável;
  • Implantar o sentimento que preza o respeito e a filosofia da humildade e eficácia;
  • Adquirir o respeito aos mais velhos, cooperação mutua, amizade, responsabilidade e união;
  • Aprender a arte milenar japonesa do taiko, herdar o valor deste folclore, cultivá-lo, preservá-lo e propagá-lo;
  • Elaborar partituras contemporâneas para, através destas, posicionar e consolidar o taiko no mundo musical.

Os dez mandamentos da arte do taiko

  1. Três anos de dedicação e preparo físico ( A prática incessante da base resulta na qualidade do som). A alma do taiko está presente no seugrande estrondo, no eco, e no som residual que se propaga. Para atingirmos o objetivo de transmitir o encanto do taiko, o percursionista precisa fortalecer as pernas e os quadris os quais são essenciais para a obtenção do equilíbrio, que é necessário para percutir com mais vigor e ritmo na execução dos movimentos dinâmicos e formosos. Para tanto, é importante praticar o Cooper, a musculação, em especial os músculos abdominais e dorsais e exercitar a flexibilidade do corpo inteiro.
  2. Posicionamento: pernas afastadas, quadris baixo e corpo distante do taiko; (o manejo dos batis é realizado com amplos movimentos no intuito de explorar todo o espaço). Pelos conceitos tradicionais, podemos dizer que a baqueta se equipara a uma lança ou espada. Deve-se segurar a baqueta de forma suave e tomar a postura de “seigan” ( posição estática fundamental). Na linguagem da espada, significa relaxar a mente para alcançar a serenidade total. Em seguida, para entrar no estado de solidez absoluta e inabalável, posicione o seu corpo com as pernas ligeiramente flexionadas e afastadas e concentre as forças no baixo ventre, absorvendo o fluido vital que provém da terra. A estabilidade do corpo é adquirida ao baixar os quadris mantendo uma certa distância do taiko que permitirá um amplo movimento das baquetas(batis). Posicionando-se desta forma será possível proporcionar a beleza dos movimentos dos braços com as baquetas.
  3. Sinta com os pés e percuta com o corpo; (a percussão utilizando apenas a habilidade manual não é o suficiente). O homem, na sua origem, como qualquer outro animal, movimenta-se utilizando os quatro membros (pernas e braços) e o corpo. Atualmente, a probabilidade de utilizar apenas a habilidade manual é maior, esquecendo-se de exercitar as pernas e o corpo. O taiko é um exercício que trabalha o corpo inteiro, inclusive a sua alma. A particularidade do taiko em grupo é como uma orquestra, em que a sincronia do ritmo dos companheiros é absorvida através dos movimentos corpóreo. Para tanto, é preciso firmar bem os dois pés no chão e sentir através deles a vibração provocada na terra, fazendo com que o corpo inteiro seja tomado pelo ímpeto dinâmico. A partir desta prática, o movimento e o controle das mãos (esquerda e direita) nas batidas sobre a superfície do taiko será aos poucos adquirida até que as duas mãos consigam manipular as baquetas com a mesma intensidade, velocidade e força.
  4. Não bata, toque; (toque com a intenção de atingir a alma das pessoas). Como já foi citado no item 03, a arte do taiko não é meramente uma habilidade manual de bater, mas sim, uma arte de tocar com o corpo e a alma, tendo sempre em mente que o importante é conseguir sensibilizar a alma das pessoas. Tocando com este objetivo obtemos com perfeição o verdadeiro som do taiko.
  5. Toque em ponto, não toque em linha; Toque em ponto, significa tocar rapidamente o taiko com a ponta dos batis formando um ângulo de 45 graus. Tocar em linha é quando o bati encontra-se paralelamente à superfície do taiko, tocando-a por uma aresta. Isso se chama “betauti” o qual usamos inadequadamente tornando a batida pesada, aplicada com toda a força e sem apresentar um ritmo ordenado. Obviamente o verdadeiro som do taiko não poderá ser apreciado se não tivermos a consciência deste fundamento, pois a peculiar vibração, o eco e o som residual será interrompido.
  6. Bater com 5 e recuar com 5, sincronia de “a-um” (abrir e fechar); (toques fracos e fortes, beirando o limite máximo e mínimo de cada um) bater com 5 e recuar com 5 significa movimentar aos batis tocando com a mesma intensidade e velocidade. Com este procedimento de bater e recuar imediatamente o bati da superfície do taiko obteremos o melhor som residual. Além disso, pode-se dizer que “a reversão do bati é o atalho para progredir”. O couro do taiko esticado através da tensão, possui elasticidade que faz com que se produza uma forte reação, também chamada “reversão de punho” é uma técnica fundamental. A sincronia “a-um”, geralmente refere-se ao sincronismo perfeito de dois percussionista sem a troca de palavras ou sinais. Neste caso referimo-nos a uma técnica que se aplica durante a percussão e não à ação do parceiro. “A” refere-se ao sentimento de ataque, ou seja, o início da batida através do grito de ataque. “Um” refere-se ao sentimento de contenção, do recuo e do sentimento de calar-se. É importante compreender e incorporar essa sensibilidade fundamental do percussionista; o ritmo de ataque e recuo.
  7. Um som e um movimento. Ambos se completam formando o todo; (Arte de percussão composta por som e movimento. Som é o taiko e movimento é o homem). O taiko é uma arte muito peculiar em que “pratica-se a música e o esporte ao mesmo tempo” na intenção de mostrar e fazer ouvir ao mesmo tempo. A expressão “arte de percussão composta por som e movimento” refere-se justamente a isso. Para entendermos melhor a expressão supracitada, podemos dizer o seguinte: “Se ouvirmos o taiko com os olhos fechados, poderemos sentir a beleza da música, porém ficaremos restritos em captar a beleza do taiko como um todo. O encanto deste instrumento está presente na performance do percussionista que adapta o seu movimento corporal de acordo com a música. É indescritível a sensação que temos ao ver o homem (percussionista) e o som incorporando-se num só corpo, preenchendo todo o espaço do ambiente. Este é o momento mais marcante que diferencia o taiko de outros instrumentos musicais.
  8. A linha da visão, a posição dos batis e o posicionamento do percussinista; ( o taiko e o som também estão presentes no espaço). Assim como na dança japonesa, a linha visual sempre se dirige para a ponta dos dedos, portanto a linha visual do percussionista que acompanha a ponta dos dedos, portanto a linha visual do tocador que acompanha a ponta dos batis é a postura mais do que natural. A partir deste procedimento é que se transmite a beleza e a imponência desta arte ao espectador. A propósito, a percussão executada com a região peitoral diante do taiko, ou seja, a postura com o troco baixo e as pernas bem afastadas (joelho esquerdo flexionado apontando para fora e o joelho direito estendido para trás com os pés também voltados para fora, mantendo a distância entre as pernas de acordo com a linha dos ombros) é a postura correta para a percussão de movimentos pequenos concentrados nas mãos. Ao contrário, para os movimentos mais amplos, erga as baquetas sobre a cabeça e desfira grandes golpes, lembrando-se sempre da postura base. Explorar ao máximo todo o espaço ao redor faz com que os movimentos pareçam maiores do que já são. É como se tivesse tocando um taiko suspenso no céu. Procure guardar isso sempre em mente.
  9. Forte, fraco, longo, breve, rápido, som e pausa; prefira tocar com expressão no rosto a tocar somente com a técnica; (a fisionomia e o grito de guerra fazem parte do taiko). Pela combinação da percussão forte, fraca, longa, breve, lenta, rápida, som e pausa, consegue-se expressar os sentimentos nas percussões compostas e coletivas. É importante ao percussionista realizar esse procedimento com o corpo inteiro na produção sonora e, concomitantemente demonstrar o som da música através da sua performance. Nesta ocasião, a expressão facial tem que ser observada de acordo com os seguintes itens: expressão de vigor, para as partituras épicas, expressão de alegria para as partituras exaltantes. Teoricamente , pode ser simples, porém na prática existe um grau de dificuldade. Isto ocorre quando não conseguimos manifestar espontaneamente a alegria embutida no interior de nossa alma, impossibilitando a transmissão deste sentimento. A importância de ressaltar a expressão facial em conjunto harmônico com o movimento corporal para a obtenção de um som agradável, ocorre somente quando o percussionista consegue conciliar essa técnicas de corpo e alma. A fisionomia faz transparecer a força vital daquele que toca o instrumento com o objetivo de cativar e prender a atenção do espectador. Tais expressões são adquiridas com a repetição exaustiva de treinos, até que o corpo aprenda a movimentar-se naturalmente. O resultado é compensado quando o espectador recebe com esplendor a apresentação, a ponto de sentir sua alma flutuar, pois muitos assistem ao espetáculos na expectativa de vivenciar essas sensações.
  10. Ab-rogar-se dos pensamentos e das imaginações, tendo em cada toque, a presença da alma, que é executado com “sangue e suor”; (força vital do homem e o espírito infinito). Quando excluímos do taiko, o sentimento, a alma, a força vital e o vigor do percussionista, não será possível manifestar o verdadeiro encanto deste instrumento. O taiko que é tocado com a força interior do ser humano, é capaz de evocar os Deuses. Isso demonstra o brado da força vital do homem. O encanto do taiko japonês, percutia em grupos, e última instância, se resume na força de provocar grande comoção através da propagação de seu som.

OS TIPOS DE TAIKO

CLASSIFICAÇÃO DO TAIKO BRASILEIRO

A classificação do taiko, se da de acordo com seu diâmetro e seu posicionamento.
A medida do taiko é dada pelo diâmetro da circunferência onde está aplicado o couro.

      1. Shimedaiko
      2. Okedodaiko
      3. Oodaiko

CLASSIFICAÇÃO DA BASE (DAI)

Shime

        • dai baixo
        • daí alto

Okedo (dai baixo)

      • Naname
      • Budim
      • Katsugui

Oodaiko

      • Hiradaiko

Bati (Baqueta)
Existe um relação direta entre o bati, que toca, e o taiko, que é tocado. Ao utilizar um bati fino para tocar um taiko grande, o som propagado não será de boa qualidade. A escolha da baqueta deverá ser de acordo com o tamanho e o tipo de taiko, levando-se em consideração o estilo de percursão.

Relação entre o diâmetro e comprimento das baquetas e o tipo e tamanho do taiko
A grossura ideal das baquetas varia de acordo com o diâmetro do taiko. Quanto ao comprimento padrão, a medida é de 40 cm.

        • Shimedaiko – 30 cm de comprimento
        • Okedodaiko – 40 cm de comprimento
        • Odaiko – 50 à 60 cm de comprimento

Em uma apresentação de taiko, inclui-se os instrumentos, citados abaixo:

      • Kane
      • Hyoushigui
      • Tekkan
      • Shamissem
      • Horagai
      • Shakuhachi
      • Fue

TÉCNICAS DE EXECUÇÃO DO TAIKO

Espírito para defrontar-se com o taiko

      • Aguçar a alma e absorver a energia vital vinda do solo preenchendo todo o corpo;
      • Sentir e conferir o som que você mesmo está produzindo;
      • Dedicar-se de corpo e alma explorando todo o seu corpo.

Obs.: a execução incorreta desses fundamentos resultará numa percussão individualista e imperfeita.

Postura para defrontar-se com o taiko
Considere como básicas:

      • afastamento lateral das pernas: pisar firme no solo absorvendo energia;
      • encaixe correto dos quadris: o quadril define a postura de encaixe, transmitindo a energia para a parte superior do corpo que deve permanecer flexível;
      • movimento dos punhos; mantê-los sempre relaxados.

obs:

      • descubra a sua postura ideal em relação ao taiko (faça a percussão diante do espelho);
      • exercitar o corpo, praticando o alongamento de todo o corpo, principalmente das pernas para facilitar no afastamento lateral destas, flexão de braços, exercícios abdominais e peitorais.

◊◊◊◊◊◊